A campanha Setembro Amarelo completa 10 anos em 2025, iniciativa que se consolidou como a maior mobilização mundial de prevenção ao suicídio e promoção da saúde mental. Desde então, diversas ações de sensibilização vêm ajudando a quebrar o silêncio em torno de um dos maiores tabus sociais: falar sobre sofrimento psíquico e sobre a importância de pedir ajuda.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil mortes anuais, o que significa uma média de 38 por dia. Os números impressionam e revelam a dimensão de um problema de saúde pública que exige tanto políticas preventivas quanto mudança cultural.

Um direito humano fundamental

Falar de saúde mental é falar de direitos humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) já consagra o direito ao bem-estar. O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais garante a todos o mais alto padrão possível de saúde física e mental. E a Constituição Federal brasileira coloca a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental.

Mas muitas vezes é preciso enxergar o problema quando ele está em nossa frente. É aí que o Setembro Amarelo se torna ainda mais urgente.

Um dos aspectos mais discutidos recentemente é a relação entre saúde mental e trabalho. Na esteira dos avanços para tratar de questões psicológicas no mundo do trabalho, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) foi alterada para exigir que empresas e organizações públicas passem a considerar também os riscos psicossociais nos Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR). Isso significa que fatores como estresse e sobrecarga não podem mais ser ignorados e devem ser tratados dentro dos ambientes corporativos. 

A CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), historicamente voltada à segurança física, também ganhou um novo papel nesse cenário: contribuir para prevenir assédio moral e psicológico. A mudança mostra que a saúde mental deixou de ser tema periférico e passou a ocupar o centro da agenda de proteção no trabalho.

Mesmo sem ratificação pelo Brasil, a Convenção de nº 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 2019, já vem sendo aplicada como referência global contra a violência e o assédio no mundo do trabalho.

O texto vai além da fábrica ou escritório: considera como “mundo do trabalho” também os deslocamentos, o uso de tecnologias, os espaços de convivência e até situações fora do horário de expediente. Ou seja, protege a pessoa em toda sua vivência laboral. 

Essa visão já inspira cartilhas do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Governo de São Paulo, além de aparecer em decisões recentes de Tribunais Regionais do Trabalho, no TST e até em votos no Supremo Tribunal Federal (STF), que utilizaram a convenção em controle de convencionalidade.

Prevenção que salva vidas

Apesar dos avanços, os desafios ainda são enormes. O suicídio é multifatorial: envolve questões sociais, familiares, afetivas e biológicas. Mas a prevenção é possível, e muitas vezes começa pelo gesto mais simples: conversar e escutar sem julgamentos.

“O suicídio é uma emergência médica, mas também é um fenômeno social. Identificar sinais, oferecer apoio e encaminhar a tratamento adequado faz toda a diferença”, afirma o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento gratuito pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br.

10 anos depois: o legado e os compromissos

Dez anos após sua criação, o Setembro Amarelo se consolida como a maior campanha antiestigma do mundo. Mas sua missão está longe de terminar. No Brasil, os compromissos assumidos em tratados internacionais e na própria Constituição impõem ao Estado, às empresas e à sociedade um dever inadiável: proteger a dignidade humana em todas as suas dimensões, inclusive no trabalho.

Porque falar sobre suicídio é salvar vidas. E garantir saúde mental é assegurar, de fato, um direito humano essencial.


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