por Jeferson Peres
O câncer de próstata é o tipo de tumor maligno mais frequente entre os homens brasileiros (excluindo câncer de pele) e causa uma média de 48 mortes por dia no país. Em 2024, foram 17.587 óbitos pela doença – um aumento de 21% na última década. Apesar dos números alarmantes, especialistas ressaltam que mais de 90% dos casos são curáveis quando diagnosticados precocemente. A campanha Novembro Azul busca justamente conscientizar a população masculina sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, quebrando tabus que ainda fazem muitos homens evitarem os exames de rotina.
Números e desafios no Brasil
De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), serão registrados cerca de 71,7 mil novos casos de câncer de próstata em 2025. Isso consolida a doença como um dos principais tipos de câncer entre os homens, atrás apenas dos tumores de pele não-melanoma. A mortalidade também segue alta, mas parte do aumento nas estatísticas reflete avanços na detecção: com o envelhecimento populacional e a ampliação do acesso a exames como o PSA e biópsias, mais casos antes despercebidos agora estão sendo diagnosticados. “Hoje há mais capacidade de detectar e registrar casos que antes passavam despercebidos. Não se trata de um aumento real do risco, mas de uma melhoria na vigilância”, explica Roberto Gil, diretor-geral do Inca.
Um dado positivo é que cresce a procura de homens mais jovens por atendimento. Entre 2020 e 2024, o número de procedimentos relacionados ao câncer de próstata em pacientes de até 49 anos aumentou 32% no SUS, passando de 2,5 mil para 3,3 mil atendimentos. “Esse aumento mostra que os homens estão chegando antes, o que é positivo. Mais exames e mais diagnósticos significam mais chances de cura”, explica o urologista Rafael Ambar, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). Ainda assim, a maioria dos casos novos ocorre em faixas etárias mais altas – em 2024 foram cerca de 250 mil atendimentos entre homens acima de 50 anos. O desafio é ampliar essa conscientização para todos os grupos e regiões: especialistas apontam que em áreas com menos acesso a urologistas e exames de PSA/ressonância, muitos homens ainda enfrentam dificuldade para diagnóstico e tratamento oportuno.
Quebrar tabus para diagnóstico precoce
Boa parte das mortes por câncer de próstata poderiam ser evitadas com acompanhamento médico regular. Porém, questões culturais e emocionais fazem muitos homens negligenciarem os cuidados. Segundo o Ministério da Saúde, 3 em cada 10 homens não têm o hábito de ir ao médico regularmente, e mais da metade só busca ajuda quando os sintomas já estão em estágio avançado. “A resistência masculina ao autocuidado é fruto de um modelo de masculinidade que valoriza a força e o silêncio. Muitos acreditam que admitir dor é demonstrar vulnerabilidade”, observa o urologista Wagner Kono, do Hospital Israelita Albert Einstein. Esse comportamento leva os homens a chegarem tardiamente aos serviços de saúde, frequentemente com doenças em fases avançadas. Como resultado, os homens brasileiros vivem em média 7 anos a menos que as mulheres, morrendo mais por doenças evitáveis e condições que poderiam ser tratadas precocemente.
No caso do câncer de próstata, o perigo da demora é grande porque em estágio inicial a doença costuma não apresentar sintomas. “O câncer de próstata é silencioso. Quando dá sintomas, geralmente já está em estágio avançado”, alerta o Dr. Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Entre os sinais de alerta possíveis, quando o tumor já evoluiu, estão dificuldade ou dor ao urinar, jato urinário fraco, sangue na urina ou no sêmen, dores ósseas e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga. Esperar por sintomas para então procurar ajuda pode ser fatal: “Quando o homem espera sentir algo para procurar ajuda, pode ser tarde demais”, reforça o urologista Wagner Kono. Por isso, quebrar o tabu em torno do exame de toque retal e do cuidado preventivo é fundamental. “Prevenção não é desconforto, é cuidado. E o toque salva vidas”, enfatiza Kono, desmistificando o exame físico da próstata.
Os fatores de risco para o câncer de próstata incluem principalmente a idade (risco aumenta significativamente após os 50 anos), o histórico familiar (pai ou irmãos com câncer de próstata elevam o risco) e a raça (homens negros têm maior predisposição). Há também influência do estilo de vida: obesidade, sedentarismo e dieta rica em gorduras animais estão associados a maior chance de desenvolver a doença. Diante disso, a SBU recomenda que todos os homens a partir dos 50 anos realizem exames de rastreamento anuais – Antígeno Prostático Específico (PSA, exame de sangue) e toque retal –, e mais cedo, aos 45 anos, para aqueles que se encaixam em grupos de risco (família com câncer de próstata, obesidade ou ascendência africana). Alguns especialistas sugerem iniciar até aos 40 anos quando há múltiplos fatores de risco envolvidos. Em caso de suspeita nos exames iniciais, podem ser feitos exames complementares, como ressonância magnética da próstata, e somente a biópsia pode confirmar com certeza a presença de um tumor maligno.
Para vencer as barreiras de preconceito, informação e diálogo aberto são as principais armas. “O homem que se cuida não é menos forte; ele é mais consciente. Cuidar da saúde é um ato de amor-próprio e também de amor por quem está ao redor”, destaca Kono, ressaltando que buscar o médico regularmente deve ser visto como ato de proteção e coragem, não de vergonha. Muitos homens só tomam essa iniciativa incentivados por esposas, companheiras ou familiares – por isso, campanhas como o Novembro Azul são essenciais para difundir conhecimento e mudar mentalidades ao longo do ano todo, desde escolas até ambientes de trabalho.
Avanços no tratamento e chances de cura
A boa notícia é que, detectado no início, o câncer de próstata tem altíssimas chances de cura – acima de 90% dos casos podem ser tratados com sucesso . “Quando o câncer de próstata é diagnosticado precocemente, as chances de cura ultrapassam 90%, com tratamentos menos agressivos e bons resultados funcionais”, explica o urologista Dr. Mauro Borges, do Centro Médico São Francisco Nos casos iniciais, as principais opções de tratamento incluem a cirurgia de remoção da próstata (prostatectomia radical) ou a radioterapia, ambas com altos índices de sucesso. Em tumores de baixíssimo risco, pode-se optar pela vigilância ativa, monitorando o paciente de perto sem intervenção imediata.
Para doenças localizadas em estágio inicial, os tratamentos atuais têm se tornado cada vez menos invasivos e mais eficazes. Nos últimos anos houve uma “explosão de novas tecnologias” na área, destaca o urologista Andrei Centeno, do Hospital São Lucas (PUCRS). A cirurgia robótica, por exemplo, vem revolucionando a urologia ao permitir procedimentos muito precisos. Nessa técnica, o cirurgião controla braços robóticos com auxílio de câmera 3D, o que elimina tremores e amplia a visão em até 20 vezes, possibilitando movimentos mais delicados. Com isso, torna-se viável preservar estruturas nobres próximas à próstata (responsáveis por continência urinária e função erétil), aumentando a chance de o paciente manter qualidade de vida após a operação. A cirurgia robótica foi recentemente incorporada ao SUS e deve expandir esse benefício a mais pacientes no Brasil.
Mesmo para casos mais avançados, os avanços médicos trazem esperança. Novos medicamentos hormonais e quimioterápicos de última geração ajudam a controlar o câncer metastático, prolongando a sobrevida com boa qualidade de vida. “Felizmente esses estudos são cada vez mais frequentes e mostram que mesmo o paciente com doença espalhada consegue viver muitos anos e com qualidade, algo que há 10 anos não acontecia”, reforça o Dr. Centeno. Em suma, o panorama do câncer de próstata vem melhorando graças tanto à prevenção – com diagnóstico precoce e conscientização – quanto aos progressos no tratamento. Porém, a mensagem unânime dos profissionais de saúde é clara: “rastrear cedo continua sendo a principal arma contra a doença”. Ou seja, vencer o medo e o preconceito para realizar os exames periódicos ainda é o passo mais importante para salvar vidas e reduzir significativamente as mortes por câncer de próstata.

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